segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Relacionado com o Convívio dos Combatentes da Guiné realizado em Arganil no dia 25 de Outubro de 2015




O Combatente é imortal
Saí da minha terra
Um jovem na flor da idade
Como tantos de vocês
Defendi a Pátria com vaidade.

Foi em Qanquelifá
Que apanhei o acidente
Numa grande emboscada.
O trauma ficou para sempre.

Consegui sobreviver
Com algumas sequelas
Mas todos têm de estar gratos.
As esposas que são elas.
Elas que nos dão alento
Em horas de algum sofrimento
Mas lembrando a família
Fica mais leve o momento.

Somos todos Combatentes
Sem arma tanto me faz
Espero que no futuro
Consiga haver mais Paz.


O Combatente está activo…
E a esposa deste Combatente Zé Almeida, folquense, 
Dalila Almeida, vai mais além com a sua escrita:

Todos quantos podem estar presentes fisicamente nestes convívios, sabem o quanto é importante saber, que o Combatente está activo. Digo e bem no meu concelho, que é Arganil, não é por acaso que há gente hospitaleira, que sabe receber, receber com amizade. Alguns mais frágeis da sua capacidade humana que se foi degradando ao longo dos anos, tendo como motivo a sua estadia em África, essa mesma África que lhes ficou na memória e vivência para sempre.
O Combatente é imortal. Será sempre lembrado.
















Pertencemos a uma geração de ouro
Amândio Rodrigues Coelho, de Meda de Mouros, um fuzileiro na Guiné, também disse de sua justiça, contando as agruras que passou em combate:
Caros Combatentes: Vocês, tal como eu, combatemos na Província da Guiné. Pertencemos a uma geração de ouro porque tivemos a honra e o privilégio de defender a Pátria. Fui Fuzileiro, ou melhor, sou Fuzileiro, porque Fuzileiro uma vez, é Fuzileiro para sempre. Fiz na Guiné duas comissões de serviço, integrado em Destacamento de Fuzileiros Especiais de 1965 a 1970. Agradeço à Associação de Combatentes do Concelho de Arganil a organização deste encontro.
Naquela Província calquei muito capim, furei matas quase intransponíveis, sofri na pele os horrores da guerra; e digo horrores porque só quem esteve dezenas de vezes debaixo de fogo intenso sabe avaliar o que isso é. Caminhar horas a fio debaixo de um calor tórrido, com fome e sede, enfrentar tornados com chuva diluviana, relâmpagos e trovões, navegar em rios estreitos infestados de crocodilos, em simples botes de borracha, quer de dia quer de noite, atravessar pântanos onde era posta à prova toda a capacidade humana, quer física, quer psicológica, até ao máximo dos limites, tudo isto, muitos de nós, passámos na Guiné.
Apesar de tudo isso, sinto no meu coração cada vez mais saudades enormes dessa terra, que eu aprendi a Amar, que eu chamo de minha querida Guiné. Constato, no entanto, que todos esses sacrifícios foram em vão, por ver a forma vergonhosa como foi feita a descolonização. Quem afirmou um dia que se tratou de uma descolonização exemplar, devia dizer ao povo o que aconteceu aos Africanos que combateram ao nosso lado! Os que não conseguiram fugir foram fuzilados. Quero aqui prestar homenagem aos Fuzileiros de raça negra: João Lama, Dinis Dias, Califa e tantos outros que eram nossos guias e que com a debandada dos portugueses foram abandonados, torturados e fuzilados.
A esta mesma hora a Associação de Combatentes de Tábua, da qual sou membro da direcção, organiza um almoço para festejar mais um aniversário. Era lá que eu devia estar, mas depois de muito ponderar decidi vir aqui por uma razão muito simples: conhecer pessoalmente e poder abraçar um homem que há muito conhecia por aquilo que lia e ouvia falar dele. Trata-se do Tenente-Coronel Marcelino da mata, um grande Homem e um grande Militar, é para mim um verdadeiro Herói Nacional.
Foi sem dúvida um dos militares mais ilustres, destemido e temido de quantos combateram e operaram num teatro de guerra bastante adverso, como foi a guerra na Guiné. Pela experiência que tive, posso afirmar que o Tenente-Coronel Marcelino da Mata foi um militar guerreiro, estratega e destemido do melhor que as nossas Forças Armadas tiveram: Ostenta no seu peito Cruzes de Guerra de 3.ª e de 2.ª Classe, três de primeira classe e a mais alta condecoração que é atribuída a um militar, a Ordem Militar da Torre e Espada. Louvores foram às dezenas. Só um militar de grande envergadura e de grande coragem é merecedor de tantas distinções.
Participou juntamente com esse também grande militar, que foi Alpoim Galvão, na operação «Mar Verde», operação de alto risco, que consistia entrar na Guiné Conakry, a qual, para além de destruir certos alvos, tinha por missão libertar, assim como libertaram das masmorras do P.A.I.G.C., naquele país, 26 prisioneiros de guerra, que em condições desumanas ali permaneciam há vários anos.
Estamos em presença de um grande Português e de um grande Herói, que soube honrar Portugal e as Forças Armadas Portuguesas. Parabéns, Sr. Marcelino da Mata e muito obrigado por tudo aquilo que fez por Portugal.

Arganil, 25-10-2005
Amândio R. Coelho.








terça-feira, 17 de novembro de 2015

Romagem de saudade desde Arganil ao Valado, com grito «Presente!...»


No Dia de Todos-os-Santos, dia de reflexão, dia de visitar e levar um gesto de saudade aos nossos mortos e deixar, porque não, uma lágrima de quem, nesta vida, mal ou bem, soube vivê-la à sua maneira, e que os que cá ficaram a interpretam da forma como a viveu e da forma que hoje a sua permanência entre nós ainda podia ser útil e generosa. Neste âmbito, também não são esquecidos os combatentes que tombaram nas matas africanas, em plena juventude, sobretudo os do nosso concelho.
E sobre os militares que não chegaram com vida à sua Pátria, à sua terra, porque bala traiçoeira ou acidente o apanhou e lhe roubou a vida, esses também não são esquecidos, porque a Associação de Combatentes do Concelho de Arganil, numa romagem de saudade, tem sabido honrar esses jovens, com a deposição de flores quer nos sinais monumentais onde essa marca está implantada, quer nos cemitérios onde jazem aqueles que não morrendo na guerra, acabaram os seus dias entre nós. Se estes foram lembrados nos cemitérios de Côja – João Alberto César, Augusto Casimiro Calinas e José Marques – de Vila Cova do Alva – António Paiva – em Arganil foram citados os nomes dos que pertencem ao concelho; em S. Martinho da Cortiça (Abrunheira), o único natural daquele freguesia que morreu em combate – António Artur Conceição Pereira – em Pomares, os quatro que não voltaram com vida e no Valado, o último que não se sabia onde se encontrava sepultado, vindo agora a saber-se que o 1.º cabo telegrafista José Henriques Pedro, morto entre Mocimboa da Praia e Diaca, faleceu em 24 de Maio de 1967 e está sepultado no cemitério de Mocimboa da Praia.
Estas visitas foram conduzidas por sete elementos da Associação de Combatentes de Arganil – António Vasconcelos, Manuel Marcelino Silva, José Gomes, José André, José Guerreiro, Pedro Alvoeiro e José de Vasconcelos. Em todas as situações de recolhimento, houve palavras relacionadas ao momento, todas elas sobressaindo as do presidente da Associação, António José Travassos de Vasconcelos. Em Martinho da Cortiça esteve presente o trio da Junta de Freguesia, Rui Franco, Manuel Fidalgo e Avelino Figueiredo; em Pomares, o presidente da Junta de Freguesia, Armando Nascimento, acompanhado do seu tesoureiro Amândio Dinis e muitas pessoas, incluindo familiares dos nomes que ali se encontram gravados em lápide; e no Valado, o largo logo à entrada da aldeia, que tem o nome do José Henriques Pedro, juntaram-se também muitas pessoas, bem como o presidente da União de Freguesias de Cerdeira e Moura da Serra, Adelino Almeida, que tanto este como Albino Gomes, amigo de infância do militar falecido, proferiram palavras de saudade e de amizade, tendo Manuel Silva, como membro da Associação explicado as démarches que foram efectuadas para se saber onde está sepultado o corpo de malogrado José Pedro, que seu sobrinho, o juiz Vítor Manuel pedro Nunes, deixou palavras de agradecimento à forma como não esquecem a memória de seu tio.

José de Vasconcelos